Escola Jésu Milton dos Santos lança 8ª edição de projeto que divulga a obra de Bartolomeu Campos de Queirós

Era uma vez um projeto literário de incentivo à leitura, por meio da escrita de cartas, que envolvia a obra de um dos grandes autores mineiros. Era uma vez uma escola pública bonita, colorida e acolhedora. Era uma vez uma comunidade escolar que participava ativamente do cotidiano da escola. Estaríamos falando de alguma cidade dos países nórdicos, para os quais costuma-se apontar quando o assunto é a excelência dos serviços públicos?

Não. Trata-se de uma escola localizada no bairro Industrial, em Contagem: a Escola Municipal Vereador Jésu Milton dos Santos. Foi lá que, na sexta-feira (24), foi lançado oficialmente o projeto “Uma carta a Bartolomeu – projeto literário ‘Escritores de Minas’”. Num auditório lotado, mais de 70 pessoas, entre alunos, familiares, professores e representantes da comunidade escolar, puderam conferir uma palestra sobre o escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, proferida por Rosa Maria Filgueiras, secretária executiva da Associação Bartolomeu Campos de Queirós, da cidade de Papagaios (MG). A noite de lançamento contou também com apresentação da aluna Joana Vitória, de 11 anos, que soltou a voz para cantar a música “É preciso saber viver”, acompanhada do professor de matemática Fernando Simões Januário.

O projeto “Uma carta a Bartolomeu” existe desde 2012 na escola e, em 2019, está em sua oitava edição. De fevereiro a novembro deste ano, alunos do 6º ano do Ensino Fundamental até o Ensino Médio estão lendo livros do homenageado e escreverão cartas.

O objetivo do projeto é incentivar a leitura junto aos estudantes e seus familiares, aprimorar a escrita e capacidades argumentativas dos alunos e também construir laços de afeto por meio da troca de cartas. A metodologia do projeto, explica sua idealizadora, a professora de português Maria da Conceição Oliveira, consiste em trabalhar com os alunos livros escritos por Bartolomeu de Queirós e depois orientá-los para a escrita de cartas pessoais nas quais os alunos se apresentam, comentam sobre os livros que leram e as impressões que ficaram.

“Quando idealizei o projeto, vi a necessidade de trocas de ideias e experiências com estudantes de outro lugar. Então, eu pensei na cidade em que Bartolomeu Campos de Queirós viveu sua infância, que é Papagaios. Assim, desde 2012, nós fazemos esse intercâmbio de carta pessoal, um trabalho que envolve escrita, leitura, amizade, responsabilidade e respeito. Tanto os alunos de lá vêm aqui, para conhecer pessoalmente nossos alunos e confraternizar com eles, quanto nós vamos até lá. Essa troca de experiências e saberes é muito rica. A gente faz todo um trabalho preparatório com os alunos sobre leitura, sobre formação do leitor, sobre qual era o desejo do autor em relação à leitura, e aí eles começam a se corresponder, sem se conhecerem. A gente vê uma transformação dos alunos ao final do projeto muito bonita. Ao longo desse tempo, os alunos entrelaçaram amizades e construíram relações que duram até hoje. Para nós, isso é grandioso”, afirma Maria da Conceição Oliveira.

No início, em 2012, o intercâmbio de cartas era feito somente entre os alunos da Jésu Milton e da Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida, em Papagaios. De lá para cá, o projeto foi crescendo e, na edição de 2019, o intercâmbio de cartas envolverá também alunos de Maravilhas (MG), próxima a Papagaios, e das parceiras Escola Municipal Professora Maria Olintha e Funec Cruzeiro do Sul, em Contagem, e Escola Estadual José Luiz de Carvalho, em Ribeirão das Neves.

E o projeto se prepara para se internacionalizar: está sendo desenhada a efetivação do intercâmbio de cartas também com alunos da cidade de Funchal, na Ilha da Madeira, em Portugal. “Há oito anos, eu trabalho com esse projeto e, neste ano, muito particularmente, Portugal nos pediu para fazermos o intercâmbio também com eles. Nós estamos trabalhando nesse sentido”, adianta a professora Maria da Conceição.

“Escrever é um ato de desvendar o obscuro”

Rosa Maria Filgueiras é secretária executiva da Associação Bartolomeu Campos de Queirós e alguém com amplo histórico de dedicação à educação e divulgação da obra do autor. Ela argumenta que a arte de escrever cartas envolve uma série de capacidades necessárias ao desenvolvimento humano, mesmo em um mundo cada vez mais dominado pelas tecnologias de informação e comunicação. “Em tempos de tecnologia avançada, é comum que os mais jovens não tenham jamais tido a oportunidade de escrever cartas. Mas, para que os intercâmbios de cartas aconteçam entre os alunos, é preciso compromisso e responsabilidade, trabalho em equipe e atenção à apresentação, à caligrafia e ao conteúdo. Realmente, escrever cartas não é mais algo comum. Mas podemos renovar esse hábito. Escrever é um ato de desvendar o obscuro. Quando você escreve, coloca naquela letra uma série de questões que dizem sobre você. Escrever para o outro envolve julgamento estético, gramatical, ortográfico. Aprimorar essas habilidades é também se desenvolver como ser humano. E isso não é nada fora de moda”, observa.

Repórter: Carolina Brauer
Foto: Ronaldo Leandro
Publicação: 28/05/2019