Seminário abre ano letivo com debate sobre democracia e participação popular

A Secretaria Municipal de Educação Seduc promoveu na manhã desta terça-feira (8/2) o seminário de abertura do ano letivo 2022 da Rede Municipal de Ensino e Fundação de Ensino de Contagem–Funec. O evento foi transmitido ao vivo pelo Canal da Educação de Contagem no Youtube, com a participação de mais de 2.500 espectadores e dos professores Daniel Cara (USP) e Catarina de Almeida (UNB) para debaterem sobre “Educação democrática e popular no contexto atual”.

O encontro buscou trazer aos trabalhadores da educação do município a reflexão sobre o contexto pandêmico e os desafios dos educadores, seja na gestão ou na sala de aula, pela retomada no modelo presencial das atividades escolares, assim como debater formas de repensar e reinventar a escola.

A prefeita Marília Campos participou da abertura do evento e destacou a política pública de Contagem, pautada por uma relação democrática com servidores, sindicatos e com toda comunidade escolar, de valorização da educação com a realização de concurso público de servidores, ampliação do acesso à Educação Infantil, oferta de cursos de formação continuada e qualificação docente, além de política de recomposição salarial e valorização de trabalhadores.

“Quero dizer da minha alegria em participar desse seminário de abertura do ano letivo. Talvez todos iniciemos o ano com mais perguntas do que respostas. Como estão nossos estudantes e nossos servidores? Quais são suas expectativas? As respostas vão aparecer a partir do momento que começarmos a compartilhar, conversar e dialogar entre nós, compartilhar experiências, angústias e soluções”, destacou Marília.

Para a secretária de Educação e presidenta da Funec, Telma Fernanda Ribeiro, a presença dos convidados confirma o alinhamento pedagógico defendido pela pasta na construção da educação municipal, defendida como um direito humano e social, garantindo espaços diversos, currículos múltiplos e includentes, capazes de ofertar às crianças e estudantes uma educação de qualidade social.

“Ao assumirmos a gestão, procuramos dotar nossos trabalhadores com materialidade e equipamentos que auxiliassem e melhorassem a experiência do ensino remoto. Produzimos um documento orientador para o desenvolvimento de atividades pedagógicas que é o ‘Trilha do Saber’. Em 2022, trabalhamos pelo ensino presencial e obrigatório, mantendo as características que defendemos, com uma escola inovadora, uma Escola Viva, múltipla, diversa, alegre, com cultura e atividades diversas para o corpo e mente”, apontou Telma.

A discussão sobre a democratização e a participação popular na educação ante o contexto atual de pandemia é primordial para a definição de ações de políticas públicas direcionadas às práticas educativas. Para contribuir com o debate, foram convidadas duas referências na pauta da educação e na luta pela valorização profissional, ambos docentes de universidades públicas, o professor Daniel Cara, da Universidade de São Paulo–USP, e a professora Catarina de Almeida, da Universidade de Brasília-UNB.

Daniel Cara

Daniel Cara ressaltou o fato de a pandemia ainda não ter acabado e de todo sacrifício e perdas que a sociedade brasileira vem enfrentando, o que traz desafios “gigantes” para a educação. Ele destacou alguns fatores essenciais para democratizar a educação e promover a participação popular. “Houve prejuízos, mas é possível recuperar todos eles. Mas a pandemia também trouxe aprendizados, traumáticos e não traumáticos, que precisam ser trabalhados e debatidos na escola”, disse.

Ele afirmou que é possível recuperar todos os prejuízos educacionais, desde que sejam adotadas ações para garantir o protagonismo dos educadores. Ele também defendeu o fechamento das escolas em 2021, o que evitou mortes e um “trauma muito maior na sociedade”. “É possível recuperar as perdas e as dificuldades de aprendizado desde que a política educacional seja orientada pela ciência pedagógica e liderada por educadores”.

O professor ainda pontuou o impacto econômico sobre a educação, que afeta a frequência de estudantes e as políticas públicas. “O problema da pandemia nesse momento está relacionado também a uma situação de fome. A dificuldade de matrícula e defasagem tem muito do impacto econômico do desemprego. É preciso investir na educação, com valorização dos profissionais, da carreira, com gestão pedagógica da educação e aplicar as ciências pedagógicas”, afirmou.

Por fim, Daniel Cara destacou a atuação da Prefeitura de Contagem e da Secretaria de Educação de pautar uma gestão pedagógica. “Iniciar ano letivo sempre é um desafio muito grande, percebo um enorme compromisso da gestão de Contagem em garantir uma gestão pedagógica, da ciência pedagógica destacando a visão de educadores”, finalizou.

Catarina de Almeida

A professora Catarina de Almeida também destacou o protagonismo dos educadores na gestão como o caminho para garantir uma escola democrática e com participação popular. Ela também apontou a necessidade de envolver os estudantes no processo e ressaltou a importância da realização de concurso público com nomeação de professores negros.

“O processo educativo tem que ser pensado com educandos e educadores. O contexto atual de pandemia é também um contexto de ameaça à própria lógica da democracia. Realizar concurso é muito importante, assim como a entrada de educadores negros. É importante que os estudantes se enxerguem em seus professores”, destacou.

De acordo com a perspectiva freiriana, inspirada no educador Paulo Freire, conforme destacou a professora Catarina durante o seminário, a “esperança” é importante para construir uma outra escola, que atenda às necessidades dos educandos. “Sem esperança não é possível alterar a realidade. Embora por si só ela (esperança) não seja suficiente, sem ela também não é possível”, disse.

Catarina de Almeida também fez referência a outro grande educador brasileiro, Anísio Teixeira, para quem a educação é um direito de todos. “A educação por si só não garante mais direitos, mas nos dá as ferramentas para conhecer e lutar por todos os direitos”, explicou a professora.

Outro caminho apontado por Catarina para uma educação democrática e participativa é a busca por soluções que levem os estudantes para dentro da escola. “É preciso lidar com as múltiplas violências que os educandos sofrem, compreender as razões de estarem fora da escola e buscar soluções para trazê-los para dentro da escola, com condições de desenvolvimento”.

Para tanto, apontou a professora, é necessário uma gestão escolar realmente democrática, não apenas a cargo de dirigentes, mas com participação ativa de educadores e educandos.

“Todos agentes da escola devem participar da tarefa de gestão, considerando o interesse do sentimento em comum. A escola democrática passa também pelo espaço de convivência social mais amplo e construído de forma democrática, no âmbito da escola e na relação de professores com estudantes. O currículo da escola deve ser construído com essa realidade”, apontou Catarina.

Ao final, a professora Catarina de Almeida afirmou ser necessário levar às escolas as discussões sociais e que é preciso desnaturalizar a violência, a barbárie, o racismo, a homofobia e a misoginia. “Estudantes não vão avançar na educação sem ter espaços adequados, alimentação adequada, segurança É preciso remover barreiras e jamais deixar os educandos e a comunidade escolar de fora desse pensar a escola”, concluiu.

O Seminário de Abertura do Ano Letivo 2022 foi mediado pelo subsecretário de Ensino da Seduc, professor Anderson Cunha, e teve a participação do professor Paulo Figueiredo, vice-presidente da Funec e da equipe de formação da Seduc. Também acompanharam a reunião secretários municipais e administradores regionais do município.

Repórter Fernando Dutra

Foto Lucas Quintão/PMC