Secretaria de Educação promove I Encontro Família e Escola para estudantes surdos

Objetivo foi sensibilizar alunos, familiares e profissionais quanto à importância do Atendimento Educacional Especializado (AEE).

“Boa noite a todos. Meu nome é Deison e sou presidente da Associação dos Surdos de Contagem. Um abraço a todos. Obrigado”, disse Deison Andrade, presidente da ASContagem, ao compor a mesa de abertura do I Encontro Família Escola, evento voltado à integração entre estudantes surdos do município, suas famílias e profissionais que prestam atendimento a eles na Rede Municipal de Educação. Deison é surdo e se comunicou com o público por meio da Libras, a Língua Brasileira de Sinais, tendo sua fala traduzida simultaneamente para o Português pela intérprete Mércia Anita Lacerda.

O primeiro encontro de familiares de estudantes surdos e profissionais da rede ocorreu na quinta-feira (11), no auditório da Escola Municipal Heitor Villa-Lobos, com a presença de cerca de 50 pessoas. O objetivo foi sensibilizá-los quanto à importância de os alunos com deficiência auditiva frequentarem o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para o apoio ao processo de alfabetização em Libras. Na oportunidade, foi apresentada a política educacional para atendimento especializado do município – a apresentação, como não podia deixar de ser, foi bilíngue, feita em Libras e em Português.

Além da presença de Deison Andrade, a mesa do evento contou com a superintendente de Projetos Especiais e Parcerias da Secretaria Municipal de Educação (Seduc), Ludmilla Skrepchuk Soares, a assessora de Educação Inclusiva na Seduc, Francimara das Graças Batista, e também com representantes de entidades parceiras: Lions Clube de Contagem, representado por sua vice-presidente, Cleuza Rodrigues de Souza Vieira Dias, e Sociedade Cultural e Religiosa, representada pelo seu presidente, Daniel Juvêncio Soares dos Santos.

Trinta salas multifuncionais voltadas à educação no contraturno escolar

O município dispõe de 30 salas de recurso multifuncional, distribuídas em todas as oito regionais, nas quais o AEE, uma política pública de serviço complementar educacional, oferta atendimento para todos os estudantes com deficiência física, motora, visual, auditiva, intelectual e ainda para estudantes com autismo e síndromes diversas.

Para os surdos, a Rede Municipal de Educação disponibiliza profissionais de apoio específicos, os intérpretes e instrutores de Libras, que diariamente acompanham os estudantes surdos nas escolas e, no contraturno, no AEE. A Rede Municipal de Educação conta com 16 instrutores e 24 intérpretes em Libras, para que os estudantes surdos possam ser alfabetizados nas duas línguas.

“Se o estudante frequenta a escola regular no turno da manhã, tem direito a uma vaga no AEE à tarde, e vice-versa. São 30 salas de recurso multifuncional, e a gente consegue cobrir 100% da rede”, esclarece a superintendente Ludmilla Soares. De acordo com ela, atualmente há 1.600 estudantes com alguma deficiência matriculados em escolas municipais e, entre esses, existem 40 estudantes surdos, desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Todos os alunos surdos são atendidos individualmente.

“É feito um investimento grande da Prefeitura de Contagem nesse atendimento especializado. Pela especificidade dos estudantes surdos, nós organizamos esse encontro com as famílias, para sensibilizá-las principalmente em relação à importância de acessarem o serviço educacional especializado, que é o AEE, a sala de recursos multifuncional, um serviço complementar oferecido no contraturno escolar. Nem todos os 40 estudantes surdos da rede estão matriculados no AEE (contraturno), e estamos tentando sensibilizar as famílias para que matriculem seus filhos no AEE. Hoje, temos cerca de 40% dos estudantes no atendimento complementar, e a nossa meta é chegar a 100%”, afirma a superintendente.

Ana Carolina Maria de Oliveira, moradora da regional Sede, é mãe de Alercia, que tem problemas auditivos. Ela conta que a filha, hoje com quatro anos, teve a deficiência auditiva detectada desde seus primeiros dias de vida. “Minha filha estuda na Umei (Unidade Municipal de Educação Infantil) Central Park e conta o auxílio de uma tradutora e uma intérprete. Ela também frequenta o AEE no contraturno escolar, e isso faz toda a diferença no desenvolvimento dela”, atesta Ana Carolina de Oliveira.

Para os surdos, a primeira língua é a de sinais

A assessora de Educação Inclusiva da Seduc, Francimara das Graças Batista, explica que a primeira língua de pessoas com deficiência auditiva não é o Português, e sim a Libras. “O objetivo desse encontro é a sensibilização dos familiares dos estudantes surdos e dos profissionais que trabalham com eles quanto à importância de terem acesso à Língua Brasileira de Sinais, chamada de “L1”, concomitantemente ao processo de alfabetização na Língua Portuguesa, a “L2”. Acessar o AEE faz a diferença na formação cidadã desses alunos”, assegura a assessora de Educação Inclusiva.

Professora no AEE, Séfora Cristina dos Santos lembra que é preciso ter paciência com as pessoas com deficiência auditiva no processo de alfabetização: “O Português que a gente trabalha com os surdos é o Português escrito, então é um pouco mais complicado, porque é como se ele aprendesse uma segunda língua. Esse aprendizado não acontece de um dia para outro”.

A intérprete de Libras Mércia Anita Lacerda, por sua vez, reforça que não é tão difícil estabelecer comunicação com pessoas com surdez, desde que exista boa vontade. “É muito fácil a pessoa se comunicar com um surdo. Às vezes, a pessoa está precisando de ajuda, querendo saber uma informação, e a outra pessoa já fica com aquele susto, sem saber como proceder. Mas muitos surdos fazem leitura labial. Então, se a pessoa se atentar em falar devagar, a própria expressão facial já diz alguma coisa, e o surdo consegue compreender, ler essa expressão facial”, explica Mércia Lacerda.

Reportagem: Carolina Brauer
Foto: Elias Ramos
Publicação: 16/04/2019