Diversidade e respeito ao próximo são temas de teatro encenado por integrantes do “Protejo”

Primeiro módulo do projeto, uma parceria entre a Prefeitura de Contagem e o Ministério da Justiça (MJSP), foi encerrado na sexta-feira (11) e mostrou que os ensinamentos foram assimilados pelos alunos.

Os temas abordados no primeiro módulo do projeto “Protejo” foram reproduzidos em uma peça teatral, apresentada na sexta-feira (11), por jovens que fazem parte da iniciativa e expuseram de maneira artística no palco o conteúdo absorvido em sala de aula. As apresentações abordaram temas tratados na primeira fase do projeto, como o resgate de autoestimas e a valorização de identidades. A iniciativa é fruto de um convênio entre a Prefeitura de Contagem e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

As encenações teatrais, sobre temas relativos a empreendedorismo (turno da manhã) e diversidade sexual (turno da tarde), aconteceram na sala multimeios da Escola Municipal Senador José de Alencar, no bairro Sapucaias II, regional Petrolândia, local onde as atividades do projeto são ofertadas.

Para abordar questões relacionadas à diversidade sexual, as turmas da tarde produziram uma peça teatral encenando um culto religioso, dividido em duas etapas. Na primeira, uma personagem representando uma pastora verbaliza palavras de ordem contra a população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e intersexual (LGBTI+), sob aplausos e a aprovação da plateia que assiste à cerimônia. Contudo, entre o público, uma jovem sente-se bastante ofendida com as afirmações da pastora que, por sua vez, afirma que homossexuais não fazem parte do povo de Deus.

No entanto, conforme o enredo da peça se desenrola, o filho da pastora revela-se gay, o que abala as crenças da líder religiosa. Diante desse conflito, e após reflexões profundas, a pastora decide conclamar os fiéis para um novo culto, denominado “culto do perdão”. Nele, a líder religiosa volta atrás em relação às suas afirmações anteriores e reforça que todos são iguais perante o divino, independentemente de orientações sexuais e identificações de gênero.

A encenação se encerra com todos cantando “Pais e Filhos”, da banda “Legião Urbana”. A emoção foi a tônica de todo o percurso da apresentação, que contou com atuações de atores e plateia compostos por participantes do “Protejo”. A pastora foi interpretada por Nayara Tadeu do Patrocínio, de 23 anos. O filho da pastora, por Matheus Jorge, de 17 anos, e a jovem ofendida no primeiro culto, por Aline Gomes, de 17 anos. A mensagem final foi a de que a igualdade deve ser a tônica nas relações humanas, inclusive as que envolvem religião.

“Eu sou evangélica e já vi cenas como essa que teatralizamos aqui. A gente se esforçou ao máximo para podermos construir esse roteiro e chamar a atenção para o fato de que há pessoas que ainda precisam despertar para a vida em relação à diversidade. Quando entrei para o projeto, achei que não ia dar em nada. Passou a primeira semana, segui em frente, formamos esse teatro e eu posso dizer, acho que por mim e pelos demais, que esse projeto já mudou as nossas vidas. Estamos todos muito felizes”, afirma Nayara, que interpretou a pastora.

A superintendente de Prevenção do Uso de Drogas da Secretaria Municipal de Defesa Social, Kátia Bordoni, está à frente da coordenação do “Protejo”. Ela explica que a iniciativa da realização do teatro partiu dos próprios jovens. Para ela, esse protagonismo reflete todo o aprendizado que os participantes absorveram nesse início da jornada do projeto que, nessa fase, teve carga horária de 30 horas. Ao todo, ele terá duração de 600 horas ao longo de 12 meses.

“Na encenação, os jovens passaram a mensagem de que a diversidade também é coisa de Deus. Eles estão tratando essa diversidade de uma forma lúdica, e isso indica que eles realmente estão absorvendo os conteúdos ministrados”, assinala Kátia Bordoni.

O projeto

O “Protejo” teve início no primeiro dia de setembro e, na sexta-feira (1/10), o módulo inicial do projeto, com duração de 30 horas, foi encerrado. Foram formadas quatro turmas, com 20 alunos cada, duas no turno da manhã e duas à tarde. Ao todo, 80 jovens com idades entre 15 e 24 anos e histórico de exposição à violência doméstica e/ou urbana participarão de diversos cursos e atividades ligadas à formação e inclusão social.

A qualificação ainda abordará conteúdos como sexualidade, família, maternidade e paternidade responsável, técnicas de resolução não violenta de conflitos, redução de danos e prevenção do uso de drogas, iniciação ao mundo do trabalho e qualificação profissional, informática e noções básicas de direitos. As atividades esportivas e de lazer, como dança, música e teatro, também integram a grade curricular do projeto. Os alunos recebem bolsas mensais no valor de R$ 100 custeadas pelo Ministério da Justiça. As aulas acontecerão às segundas, quartas e sextas-feiras.

Reportagem: Carolina Brauer
Foto: Ricardo Lima
Publicação: 17/10/2019