Ensino remoto nas escolas da rede municipal de Contagem inova em práticas que mudam a forma de aprender

A professora Rosilene Alves utiliza ferramentas e metodologias para superar a distância e aprimorar o aprendizado.

A Prefeitura de Contagem retornou com as aulas não-presenciais na Rede Municipal de Ensino e na Fundação de Ensino de Contagem (Funec) no início de março com o desafio de adaptar as práticas pedagógicas e educativas para a realidade do ensino remoto. Com a pandemia da Covid-19, a opção da Prefeitura foi de retornar com as aulas presenciais somente quando houver segurança nos indicadores sanitários do município.

Para dar suporte às escolas, dirigentes e professores(as), a Secretaria de Educação promoveu, desde o início do ano, diversas reuniões que resultaram em um diagnóstico em que se identificou a necessidade de oferecer ferramentas para auxiliar o ensino remoto, como afirma a secretária de Educação, Telma Fernanda Ribeiro.

“A Superintendência de Projetos Especiais / Diretoria de Formação, vinculada à Subsecretaria de Ensino, criou a plataforma Recursos Digitais para Atividades Remotas e, desde março, a Seduc oferece diversos cursos de formação tecnológica e eles têm tido grande procura”, afirmou Telma.

Ainda como resultado do diagnóstico promovido pela equipe da Seduc, a Subsecretaria de Ensino elaborou o “Trilha do Saber”, documento orientador para o planejamento de atividades remotas. Segundo o subsecretário de Ensino, Anderson Cunha, o documento é “fruto” do processo de escuta com os dirigentes escolares, que buscavam uma orientação pedagógica e uma “unicidade” dentro da Rede Municipal de Ensino.

Para auxiliar as escolas com o “Trilha do Saber” a Seduc promoveu reuniões com pedagogos e pedagogas de todas as unidades.

Experiências

Nestes poucos mais de dois meses de aulas, são muitos os exemplos de experiências positivas, tanto de aprendizado e adequações dos professores quanto de aplicação pedagógica das atividades escolares. Em comum nessas experiências, a colaboração entre professores e dirigentes escolares, com apoio da Secretaria de Educação, na busca por inovação e aprendizado no uso de tecnologias diversas.

Professora Luciana Kyrath usa várias tecnologias nas atividades remotas com os alunos

A professora de alfabetização da Escola Municipal Padre Joaquim de Souza e Silva, Lylian Alessandra, conta como tem sido sua experiência. “Eu tinha uma resistência ao uso de tecnologias. Participei de várias lives e formações gratuitas e hoje é muito natural para mim”, afirmou. “Fizemos várias reuniões com colegas e direção e criamos o Bloco de Atividades, em que escolhemos um tema gerador e todas as disciplinas participam. Isso funcionou muito bem. A interdisciplinaridade deu muito encaixe no mecanismo de funcionamento escolar. Começamos a produzir vídeos, usamos o Whatsapp e o Facebook”, completou a professora Lylian.

Já a professora de geografia, Fernanda Macedo, da Escola Municipal Professora Maria de Matos Silveira, que montou um vídeo com um “tour” virtual pelo bairro, para os alunos de 8 e 9 anos, e, a partir daí “todos os colegas” desenvolveram suas propostas de atividades dentro da temática do vídeo. “Todos contribuem e ajudam uns aos outros, professores(as), dirigentes e estudantes”, disse.

Foi a partir de uma parceria com uma colega que a professora do Ensino Fundamental, Hellen Peruci, da Escola Municipal Maria de Matos Silveira, criou um blog para interagir com os alunos. “Criamos o blog para publicar nossas videoaulas, apostilas e auxiliar os estudantes. Tivemos também a mostra da primavera, com vídeos publicados no Youtube. Além disso, usamos também o Whatsapp nas atividades”, afirmou Hellen.

Para auxiliar professores(as) no processo do ensino remoto a preparação nas escolas começou muito antes do início das aulas, como explica a diretora da Escola Municipal Professora Maria de Matos Silveira, Luciana Mara de Figueiredo. “Nos reunimos com a equipe pedagógica, antes do início das aulas, e identificamos, dentro do currículo, as habilidades básicas necessárias aos estudantes”, disse.

Blog criado pela Professora Hellen Peruci, da Escola Municipal Maria de Matos Silveira, para interagir com os alunos

“Fizemos a primeira temática de atividades, até para ajudar nossos professores quanto à sequência didática, a propor temas interdisciplinares, usar metodologias ativas, marketing educacional para chamar os alunos, propor atividades nas redes sociais, fazer vídeos explicativos. Então foi um trabalho de mais de um mês antes de começar as aulas para colocar todo o coletivo para trabalhar com grandes temas e entender a lógica do ensino remoto”, completou a diretora Luciana.

Na mesma linha, a diretora da Escola Municipal Padre Joaquim de Souza Silva, Juliana Lott, destaca o trabalho coletivo para melhorar a experiência com o ensino remoto. “Tudo que a gente faz na escola é em conjunto, não resolvemos nada sozinhos. A escola dá total apoio pedagógico, fazemos tudo muito perto dos professores(as) e das pedagogas para decidir o que é viável aos estudantes e o que é melhor para a escola”, destaca.

Ferramentas permitem maior participação dos estudantes

O domínio no uso das tecnologias acarretou “crescimento profissional” e “eficiência” nas aulas, conforme a pedagoga da Funec Oitis, Luzia Soares de Jesus, para quem as “experiências” das ferramentas tecnológicas da equipe e da comunidade escolar “melhoraram o diálogo com as famílias” e permitem maior participação dos estudantes nas atividades.

A professora de Ciências da Escola Municipal Padre Joaquim de Souza Silva, Sheila Kenia de Almeida, usa de diversos recursos tecnológicos em suas aulas. Whatsapp para envio de atividades semanais (vídeos, links de museus, jogos, atividades interativas e questionários), aulas virtuais no Google Meet onde dúvidas podem ser tiradas e ainda Instagram e Facebook para divulgação das atividades.

A professora Rosilene Alves (foto em destaque), que leciona português na Escola Municipal Maria do Amparo e possui especialização em Informática na Educação pela Universidade Federal de Lavras – Ufla (2008) e mestrado em linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, reconhece que os estudantes “sentem falta” do contato direto com o professor. Para tanto, utiliza ferramentas e metodologias que busquem superar essa distância. “A minha dinâmica na aula síncrona é bem diversificada pois os adolescentes são bem desafiadores, não é possível a aula ser apenas expositiva. As aulas assíncronas (conteúdo disponibilizado dentro de uma plataforma, onde o professor disponibilizará o material (tarefas, questionários, textos, vídeos, links, etc) referente à sua matéria) são usadas para aprofundamento de um conteúdo que percebo nas avaliações das atividades que as turmas não entenderam muito bem”, destaca.

O retorno dos estudantes quanto aos conteúdos apresentados é importante para dar aos professores a segurança de que as atividades estão sendo aceitas e compreendidas.

“As crianças e famílias da educação infantil, que é o segmento que atuo, estão bem participativas, dando sempre o feedback por vídeo, fotos, áudios e depoimentos escritos do que aprenderam nas aulas.

Cultura microbiana feita pelos estudantes da Funec/Centec, sob orientação do professor Rodrigo Lobo

Nesse tempo de ensino remoto o resultado tem sido muito gratificante, os projetos desenvolvidos de forma criativa e extremamente profissional, atingindo a criança por inteiro”, pontuou a professora Luciana Kyrath Lobo, que atua no Anexo da Educação da Infantil da Escola Municipal Padre Joaquim de Souza e Silva.

O professor de Microbiologia do curso de Análises Clínica e Química e Técnico em Química da Funec unidade Centec, Rodrigo Lobo, enxerga as aulas práticas remotas como “desafiadoras” e requerem “artifícios” e “alternativas” que levem os alunos a fazerem descobertas. “Passei uma aula prática caseira, através do uso de uma gelatina, uma cultura microbiana, seguindo orientações e um roteiro. Os alunos adoraram”, destacou.

“As coisas se inverteram hoje. Antes o aluno procurava o professor na sala de aula, agora, nós professores estamos procurando os alunos na casa deles. É muito desafiador, mas vale a pena”, concluiu o professor Rodrigo.

Repórter Fernando Dutra

Fotógrafa Janine Moraes e fotos de arquivos pessoais